Grupo formado por empresas, fundos e pessoas físicas vai lançar a rede em centenas de cidades

A redução gradual dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vem criando um ambiente favorável a investidores interessados em diminuir sua posição no mercado financeiro e destinar parte dos recursos a um novo modelo de serviço de acesso à internet por banda larga. Um grupo de oito investidores considerou que deixar o dinheiro no banco ou embaixo do colchão teria o mesmo resultado em termos de rendimento. Daí a decidir apostar em ativos reais foi um pulo. Nesse meio tempo, descobriram um projeto da Telefônica Brasil para nomear franqueados que façam a expansão da rede de fibras ópticas da operadora.

Dona da Vivo e do portal Terra Networks Brasil, a Telefônica criou a franquia com a marca Terra Fibra e conexão da Vivo Fibra. Já mapeou mil localidades com potencial para receber rede de banda larga por fibra óptica. Desse total, a meta é levar a infraestrutura a 500 localidades – cidades ou bairros – em três anos, se o modelo tiver sucesso, diz Christian Gebara, diretor-presidente da Telefônica.

A dona da Vivo já firmou contratos com três provedores. O primeiro deles, Xis Internet Fibra, é formado pelos oito investidores – fundos, empresas e pessoas físicas. Com sede em São Paulo, eles já estão com a rede pronta para lançar o serviço em Águas Lindas, a 193 km de Goiânia, no dia 20. A Xis, uma sociedade anônima de capital fechado, emprega 70 pessoas. A ideia é atingir 600 a 800 funcionários em até três anos.

O grupo está se organizando por meio de dois fundos de investimento. O primeiro deles, um fundo de investimento em participações (FIP), já está montado, diz Marco Carbonari, vice-presidente de relações institucionais da Xis. O outro é um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC), que segue regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e está sendo estruturado. Está prevista a adesão de mais investidores, até formar um grupo de 20 participantes.

“Estávamos buscando uma oportunidade de investimento. Falamos com uma consultoria de negócios, que nos mostrou o projeto da Vivo”, diz Carbonari. Desde o primeiro contato, em 2018, as duas partes passaram meses discutindo os detalhes do investimento. Os investidores queriam sair da dependência da Selic, que segue abaixo de 4,5% este ano.

Carbonari, ele próprio um dos sócios da Xis, não revela o aporte realizado. No entanto, o CEO da Telefônica estima em R$ 2,5 milhões o investimento necessário para abrir uma franquia do Terra. O valor cobre custos de construção de rede, montagem de uma loja pequena, aquisição de sistemas e equipamento para a casa do cliente, enfim, tudo que é necessário para o funcionamento do negócio. O retorno do investimento é estimado em quatro anos, com taxa de 30%, diz Gebara. A operadora trabalhou no projeto por mais de dois anos com a consultoria Bittencourt e outros especialistas.

O plano é levar a franquia para grande parte das 500 localidades mapeadas pela Telefônica. A expectativa da operadora é que de 60% a 80% dos domicílios de cada local contratem o serviço. Os alvos são cidades que ainda não dispõem de banda larga. No caso de Águas Lindas, Gebara prevê adesão de 60 mil casas.

Na opinião de Carbonari, a adesão de consumidores será fácil. Ele se baseia em sua própria história. Criado em Taciba, na região de Presidente Prudente, interior de São Paulo, Carbonari diz que há cerca de cinco anos a primeira rede de fibra chegou à cidade, implantada pela Vivo. Chamou sua atenção como o comportamento das pessoas mudou. O acesso à informação ampliou o leque de assuntos discutidos entre as pessoas, inclusive em sua própria família.

“Isso me convenceu de que a banda larga é um negócio que, além do retorno financeiro, tem um viés legal, sustentável, que é o aspecto voltado à educação, informação, filosofia, de trazer algo distante para dentro de casa”, diz o executivo e investidor.

“O modelo [de negócios por franquia] é muito diferente do que a gente já fez. Não impacta no nosso capex [investimento] porque o investimento é do franqueado”, diz o CEO da Telefônica. O executivo reconhece que a franquia “traz o pequeno provedor de banda larga como um aliado, e não um concorrente”. “Para nós é uma mudança enorme de modelo, uma maneira de acelerar a expansão.”

A rede de fibra da Telefônica passa em frente a 10 milhões de domicílios de 154 cidades. O plano da tele é elevar esse número para 15 milhões de domicílios até 2021. Os alvos para franquia são cidades com 20 mil a 50 mil habitantes.

Dos 5.570 municípios brasileiros, só 552 têm rede de fibra, o que mostra um mercado potencial para investimento. Para as grandes operadoras, implantar a redes em regiões remotas, de baixo poder aquisitivo ou baixa densidade populacional pode não compensar financeiramente. Mas há metas de universalização a cumprir, dependendo do caso.

Com o novo modelo, a Telefônica define as cidades que receberão a infraestrutura, transfere seu conhecimento sobre a construção de rede, ensina como operar o negócio, dá treinamento, compartilha fornecedores e estabelece os preços dos planos. A companhia também leva seu backbone, ou rede de transporte, até a entrada da cidade, de onde o franqueado tem acesso e faz a conexão com a rede que vai construir. Em troca, esse parceiro pagará royalties à operadora. Gebara não revela o percentual, mas diz que fica entre a faixa de 7% e 12% da receita do negócio.

“Em vez de ficarmos batendo a cabeça, tentando e errando, decidimos ir ao líder do mercado. Isso vai economizar tempo, e tempo é dinheiro”, diz Carbonari, ao explicar a opção pela franquia.

“Em vez de ficarmos batendo a cabeça, tentando e errando, decidimos ir ao líder do mercado. Isso vai economizar tempo, e tempo é dinheiro”, diz Carbonari, ao explicar a opção pela franquia.

Mais duas franquias já foram assinadas no Centro-Oeste, enquanto outras estão em fase de conclusão no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Sul do país, diz Gebara. Com 17 mil provedores de banda larga fixa no país, esse setor vem passando por consolidação, diz Basílio Perez, conselheiro da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint). Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), os pequenos provedores detém 8,5 milhões de assinantes, atrás da líder Claro/Net, com 9,5 milhões. Perez diz que grupos nacionais e estrangeiros estão impulsionando as compras de provedores menores. Além disso, grandes operadoras fazem acordos comerciais com esses provedores para que vendam o serviço em seu nome. Mas o modelo de franquia é inédito.